Como a neurociência pode beneficiar o processo ensino-aprendizagem
O especialista e educador William Borghetti diz que se o professor conhecer mais do cérebro e do comportamento dos alunos, terá um manual de instruções para poder educar melhor
A Educação brasileira vive um abismo gigantesco quando tratamos o assunto, especialmente, pelo viés dos professores. Segundo dados dos Censos Escolar e do Censo da Educação Superior de 2023, a educação básica conta com 2,4 milhões de professores cadastrados e licenciados.
Isso escancara a realidade de que cada professor atende, me média, 90 alunos, quando o recomendado pelo MEC é de 25 alunos por educador.
Além deste número alto de estudantes, os professores são responsáveis por atribuições mais burocráticas, como planejamento de aula, montagem de materiais didáticos e correção de provas que, normalmente, são executadas fora de seus horários habituais de trabalho.
“Existem duas coisas arruínam um professor: a alta quantidade de alunos e as burocracias extra-sala. Quando o professor “bate o ponto” e vai embora da escola, seu trabalho não terminou. Ele ainda vai fazer correção de provas, montar aula, pensar atividades, e, na maioria das vezes, com recursos próprios. O cérebro é uma máquina de associação: se o cérebro começa associar que dar aula significa ficar extenuado, ele vai buscar cada vez mais fugir daquilo. Um professor desmotivado, em uma sala cheia de gente que não quer estar ali, e com uma estrutura precária, é a receita da desconexão”, afirma William Borghetti, especialista em Neurociência, em Neurocomunicação, professor e palestrante.
A importância de Neurociência neste processo educacional
A Neurociência é a área de estudo que analisa o sistema nervoso, as emoções e o comportamento humano, cujo dois dos principais objetivos é compreender como as células nervosas se comunicam entre si e como os processos de comunicação se traduzem em comportamentos, emoções, pensamentos e funções cognitivas.
Sendo assim, a Neurociência beneficia por completo o processo ensino-aprendizagem, oferecendo, especialmente, uma educação mais humanizada, inclusiva e personalizada.
“Uma coisa é fato: adolescentes respeitam quem eles admiram. Sempre é importante lembrar que por trás do professor e do aluno há um Ser Humano, que tem suas inseguranças e necessidades. Quando um professor conhece mais do cérebro e do comportamento dos seus alunos, é como se ele tivesse um “manual de instruções” onde ele vai poder implantar melhor o deseja ensinar”, constata Borghetti.
Além disso, por meio da Neurociência, os professores são mais capazes para aprender a melhorar a comunicação com os alunos e, assim, tornarem as aulas e o processo de ensino-aprendizagem mais eficazes.
“Primeiro a biologia. Criança é criança, adolescente é adolescente, adulto é adulto. Quando eu trato um no formato do outro, eu erro. Temos que entender que o cérebro adolescente é sedento por novidade, é impulsivo e valoriza muito o grupo. Se minha expectativa é chegar em uma sala com 30 alunos de 15 anos que estejam sentadinhos esperando minha fala, provavelmente, me frustrarei. E lembrando também do elemento mais importante da comunicação: a escuta. Escuta ativa, carinhosa, empática. E muitas soluções vem inclusive dos alunos. Mas, tem que estar com a cabeça livre para ouvir essas demandas”, reforça William.
Otimização do tempo aliado à Neurociência
Mas, para que o professor possa, realmente, dar este tempo e escuta para os professores, é necessário que suas demandas extra-sala sejam, de fatos, otimizadas.
Como citado anteriormente por William Borghetti, as burocracias extra-sala demandam tempo e estafam os professores. Por isso, essencialmente, um dos elementos principais na atuação dos profissionais de Educação é gerir melhor o tempo.
Para isso, atualmente, as ferramentas tecnológicas são grandes aliadas.
“Gestão do tempo, para todas as profissões do mundo, é essencial, mas, como disse antes, o professor tem um elemento a mais que é o trabalho “extra-sala”. Portanto, se essa burocracia se resolve com tecnologia, o foco de atenção do professor vai para onde importa: o aluno”, orienta.
Desta forma, é possível que os professores ganhem mais tempo e permite que atendam seus alunos de uma maneira mais próxima.
“Imagine um atleta que pega duas horas de trânsito para ir e voltar do treino. De repente, ele muda para o local. São quatro horas a mais investidas no objetivo. A médio e longo prazos, esta é a diferença para o sucesso ou o fracasso. Temos que lembrar que tempo para pensar é um fator importantíssimo para criatividade, e a criatividade é uma das melhores ferramentas do professor. Mas, como pensar em novas alternativas, em conexão, em ferramentas de ensino, se mal consegue cumprir as obrigações? Portanto, estabelecemos aqui que uma cabeça do professor mais arejada reflete em performance na sala de aula”, ressalta.
Por fim, o especialista evidencia os pontos essenciais que, pela Neurociência, favorecem os professores na conexão com os alunos.
“Atenção e memória andam juntas. Você lembra do que prestou atenção. Para o aluno prestar atenção, é preciso motivação, ou seja, um motivo para fazer aquilo. O professor tem que dar show na fala. De novo, o aluno respeita quem ele admira. E como admirar alguém que já não tem energia para fazer o básico? Caímos em um ciclo de cansaço mental, que traz uma aula para cumprir tabela, que desconecta do aluno, que tem impacto no comportamento, que estressa o professor e que cansa mentalmente. E isso é um ciclo eterno”, finaliza William Borghetti.